segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Seleção dos 20 e poucos anos


Quem nunca escutou, ao menos uma vez, a música "20 e poucos anos" do cantor Fábio Jr.? Linda, né? Acredito que o técnico da seleção brasileira de futebol, Mano Menezes, seja fã da música e passou a escutá-la com frequência desde que assumiu o cargo da canarinho, em 2010.

Após o fiasco na África do Sul (copa de 2010), a palavra da época para dar vitalidade e devolver a seleção o respeito outrora perdido, foi a simples e pomposa: renovação. Mas o que seria renovar? Podemos entender como o ato de jogar onze (11) garotos no campo e salve-se quem puder. Porém, tenho a convicção que na mente da maioria das pessoas, "renovar" pode e deve ser a mescla do novo e sofisticado com o "velho" e experiente.

Não há como negar, bem ou mal, que Mano Menezes possui as suas convicções. No entanto, as mesmas vêm dando certa dor de cabeça para a formatação de um time que possa bater de frente com as grandes seleções do momento. Não me entendam mal. Renovar é algo preciso em qualquer área de trabalho. Mas o excesso pode virar um grande problema.

Parodiando a música supracitada, a seleção, sem seu contexto, não possui jogadores de 30 ou mais anos. Seria isso um castigo aos medalhões ou simplesmente uma forma de pensar do treinador? O fato é que essa ausência de experiência vem fazendo falta nas horas em que a seleção joga mal e um "cara" vai à entrevista e dá a cara pra bater. 

Após  a vitória magra e sem convicção diante da África do Sul na última sexta-feira, eu peguei as escalações das grandes seleções e fiz a media de idade delas. Que fique claro: fiz a media apenas dos titulares. Vamos a elas:

Brasil = 23,4
França = 26,4
Holanda = 23,8
Alemanha = 24,9
Inglaterra = 27,6
Bélgica = 24,2
Portugal = 27
Itália = 28,1
Espanha = 25
Argentina = 26
Rússia = 27,9

O Brasil possui a seleção mais jovem de todas. E, se pegarmos apenas os jogadores de ataque (Neymar, Oscar, Lucas e Leandro Damião), ela cai para 21 anos. 

Um ataque com media de 21 anos, sem que os jogadores tenham o mínimo de experiência internacional, dá sinais de preocupação em momentos de decisão que, por ventura, aconteçam na copa do mundo. Pressão ainda maior por jogarmos em casa. 

Se pegarmos o último grande gênio que foi ainda novo disputar uma copa do mundo, iremos perceber que ele tinha um suporte de extrema experiência para resguardá-lo. Estou falando de Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Ronaldo fenômeno.

Na campanha do Tetra, em 1994, Ronaldo ainda então com seus 17 anos, nem entrou. Já em 1998, com 21 anos,  quando já era o melhor do mundo por duas vezes, ele era "o cara". Porém, tinha Taffarel, Dunga, Bebeto, Rivaldo para dar aquela acalmada em momentos mais complicados. Jogadores esses com mais de 30 anos.

Em função da temática em questão, fiz a media de idade das seleções campeãs mundiais do século XXI como forma de ter uma percepção mediante essa 'coisa' da experiência mesclada com a juventude. Números abaixo:

- Brasil de 2002: 26,3 - Seis jogadores estiveram na copa de 1998 ou outras em copas.
- Itália de 2006: 28,1 - 11 jogadores estiveram na copa de 2002 ou em outras copas / Alemanha (país-sede): 26,1 - 10 jogadores estiveram na copa de 2002 ou em outras copas / Brasil: 27,1 - 12 jogadores estiveram na copa de 2006 ou em outras copas
- Espanha 2010: 26 – 10 jogadores estiveram na copa de 2006 ou em outras copas. Brasil: 28,7 – 9 jogadores estiveram na copa de  2006 ou em outras copas

Os números nem sempre fazem jus ao que está acontecendo. Mas é um grande propulsor para idealizar ou dar uma ideia do que pode vir a acontecer. Muitos jogadores disputando uma copa já tendo participado de uma anterior.

Nota-se a crescente media de idade na seleção brasileira nas três (3) copas salientadas. A Itália foi campeã em 2006 com poucos jogadores abaixo dos 23 anos. A Espanha, em 2010, rejuvenesceu o elenco, mas a base foi sendo mantida para que jogadores novatos pudessem ter a tranquilidade em jogar. 

A menção que fiz à Alemanha de 2006 traduz o seu papel atual no cenário futebolístico. Vice em 2002, a Federação quis um processo de rejuvenescimento para a copa jogada em casa, 2006. Mas isso já aconteceu em 2002. Tanto que 10 jogadores já haviam atuado em outras copas. A equipe saiu com um honroso 3ª lugar e muito aplaudida pela torcida. Já em 2010, a equipe estava mais madura e, novatos como Thomas Muller e Ozil, puderam jogar tranquilamente com o aparato que havia nas demais posições. Poderia servir de lição ao Brasil que desde 2007 já sabia que a copa em 2014 seria em solo tupiniquim.

Os números que aqui salientei não são verdades absolutas ou concerne um modo único que deva ser adotado pelo técnico da seleção. Mas ficou claro, mediante os números e suas comparações, que as grandes seleções e seus jovens valores possuíram um suporte atrás como experiência. Nosso ataque é jovem. Podem sentir a pressão. Por que não? “Ah, mas os outros times também tinham atacantes jovens”. Claro que tinham. Mas os mesmos já tinham experiência de uma copa do mundo. A idealização de um bom projeto à longo prazo visou isso.

Diante de tudo isso, qual o problema em convocar jogadores já rodados e que dêem essa balança na hora de dividir a pressão em um momento tão importante como a copa do mundo? Qual o problema em convocar os “trintões”? Mano Menezes disse hoje que se os mesmos estiverem em boa fase vão ser convocados. Ora, bolas! Mas só agora ele teve essa ideia? Ele vai mesmo deixar jogadores de 20 e poucos anos serem chamados de pipoqueiros ou tomarem vaias estrondosas sem ao menos ter um líder, um cara que chame a responsabilidade dentro e fora de campo?

Enquanto isso vivemos e convivemos com os jogadores de 20 e poucos anos e a música ficará em minha mente por mais alguns anos. Não é errado adotar essa “estratégia”. Mas jogar os jovens aos leões também não será de grande valia perante a exigente torcida brasileira. E o primeiro jogo da copa vai ser em São Paulo. E o recado já foi dado.


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